Susan wolf: O sentido da vida

Raphael Mees
13 min readSep 13, 2020

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Qual é a questão filosófica mais discutida na cultura pop atualmente? O que é que Rick and Morty, Bojack Horseman, todos os filmes dos Cohen Brothers ou do Woody Allen, do Andrei Tarkovski ou do Charlie Kaufman, todos os animes que eu já vi na vida, toda a discografia do Kanye West ou do Bob Dylan, do David Bowie ou dos Death Grips, “The Climb” da Miley Cyrus, “Price Tag” da Jessie J e o podcast do Joe Rogan têm em comum? Todos eles são unidos por uma busca pelo sentido da vida, são unidos por uma busca pelo que vale a pena fazer no tempo limitado que a vida nos dá.

No seu livro “The Meaning in Life and Why It Matters”, Susan Wolf explora precisamente esta questão. Existe uma grande dificuldade nos nossos tempos em entender qual é a direção que devemos dar à nossa vida, se é que devemos dar alguma. Existem coisas que valem mais à pena que outras? É preciso que exista algum tipo de critério para as nossas escolhas, e quanto mais conscientes nós formos de quais estes critérios são e como funcionam, melhores são as nossas chances de vivermos uma boa vida.

Susan Wolf apresenta os dois modelos mais comuns hoje em dia para explicar as nossas escolhas: o egoísta e o moralista. Pensadores como Hobbes ou Maquiavel pensavam que o homem age, invariavelmente, apenas tendo em conta o seu interesse próprio. Outros, como Stuart Mill ou Kant, afirmavam haver uma outra motivação para além do nosso interesse próprio, algo maior do que nós todos, a moralidade. Daqui nasce um dualismo nas teorias morais modernas: uns defendem que devemos agir de forma a maximizar o nosso bem-estar, outros que devemos agir de um ponto de vista impessoal, “o ponto de vista do universo”, de onde os nossos interesses valem tanto quanto quaisquer outros.

A proposta de Wolf é que deve existir uma terceira categoria a ser considerada. Este dualismo deixa de lado grande parte das motivações e razões que temos para agir, e entre elas muitas das mais importantes — as que nos dão uma razão para continuar vivendo, para levantar da cama todos os dias, que fazem as nossas vidas valerem a pena. Razões que, numa palavra, dão significado às nossas vidas. Wolf defende que, para além do interesse próprio e da moralidade, devíamos considerar o significado como uma categoria independente das nossas motivações. Aliás, fazê-lo nos permitirá inclusive ver a felicidade e a moralidade sob outra luz. Não reconhecer o sentido como uma terceira categoria independente nos fará classificar os nossos motivos de forma mais egoísta ou mais virtuosa do que eles merecem.

Mas que razões são estas que não são nem de interesse próprio nem de moralidade? São as razões de amor. Wolf escolhe este bonito nome para enfatizar que o que está em causa não é o bem estar do indivíduo, mas preocupações que são, mesmo assim, bastante parciais.

Quem perde horas de sono e oportunidades de trabalho para cuidar dos pais numa idade avançada ou perde horas de conforto para ajudar um amigo a mudar de casa, não age nem por interesse próprio nem por dever ou qualquer tipo de razão imparcial. Estas pessoas agem por amor. Escrever filosofia, praticar o violino ou manter o jardim sem ervas daninhas são todas coisas que podem exigir mais de nós do que seria ideal do ponto de vista do nosso bem-estar apenas. Quando amámos algo, seja uma pessoa, uma causa, projecto ou prática, sacrificamos em nome deste algo o nosso conforto, sossego e por vezes muito mais. Seria ridículo pensar que quem age assim age irracionalmente. Sem algo pelo que nos sacrificarmos, a nossa vida perde o sentido —o 2Pac já dizia, as coisas que nos dão razão para viver nos dão igualmente razão para morrer.

É importante notar, no entanto, que nem todas as razões de amor são boas razões. Fazermos algo por amor não significa que necessariamente beneficiamos o nosso objeto amado: uma mãe pode, por amor, satisfazer todos os desejos do filho e acabar mimando a criança. Mais do que isso, o nosso amor pode ser mal orientado. O objeto do nosso amor pode não ser digno de amor: um adolescente influenciável pode contribuir com as suas poupanças a um culto com o qual se identificou, perdendo a sua segurança financeira e a oportunidade de beneficiar grupos mais dignos e necessitados (quem já viu Tiger King há de compreender este ponto).

Na definição de Wolf, para que haja significado na nossa vida, temos de amar objetos dignos de amor e interagir com eles de uma maneira positiva. Aqui está implícita a ideia de que algumas coisas são objetivamente dignas de amor e outras não, pelo que a avaliação do sujeito por si só não chega: o significado só surge quando a atração subjetiva se encontra com a atração objetiva. A vida de uma pessoa só tem sentido se ela realmente quer saber de algumas coisas, se ela se excita, se interessa, se esforça por algumas coisas, em vez de se sentir entediada e alienada por tudo ou quase tudo o que faz. Mesmo assim, só o interesse não basta: se os objetos de amor não forem dignos, a vida vivida em nome deles será igualmente vazia (mais acerca disso adiante).

Para sustentar a sua posição, Wolf se baseia em duas visões de sentido comum sobre o sentido da vida.

i) Que não vale a pena viver se não for para fazer algo que amámos: não devemos ficar pelo que é esperado de nós ou por algo de que não gostamos por não nos ocorrer mais nada. O melhor caminho é procurar a nossa paixão e persegui-la.

ii) Que para viver uma vida satisfatória temos de nos envolver em algo “maior que nós”. Devemos procurar contribuir para algo com valor independente de nós.

  1. Perseguir a nossa paixão: a diferença entre realização e outros prazeres

Os conselhos de perseguir a própria paixão vêm da observação empírica de que quem vive empenhado em projetos pelos quais se tem genuíno interesse obtém por conta disso um tipo de sentimento, um tipo de prazer, que estaria ausente caso contrário. Podemos nos referir a estes sentimentos de prazer como sentimentos de realização — o oposto dos péssimos sentimentos de tédio e alienação. Apesar de o sentimento de realização ser um sentimento de prazer, ele não é o único. Andar numa montanha russa, fumar paiva, comer um sundae ou conhecer uma celebridade podem todos proporcionar sensações de prazer — por vezes muito intensas, aliás. Mesmo assim, é fácil imaginar como uma pessoa com fácil acesso a estes prazeres pode mesmo assim sentir a falta (subjetiva) de algo na sua vida.

Uma vida cheia de realização não promete ser também cheia de prazeres: muitas vezes as coisas que nos apaixonam exigem de nós uma dedicação que nos torna vulneráveis à dor, desapontamento e stress — considere-se, por exemplo, escrever um livro, treinar para o triatlo oucuidar de um parente doente. Não só isso, mas os sentimentos de realização são apenas um tipo de bons sentimentos, e como tal, competem com os demais: uma pessoa dedicada a empenhar o seu tempo, energia, dinheiro e mais, a algum projeto realizador, necessariamente reduz os recursos disponíveis para atividades “meramente” divertidas.

2. Fazer parte de algo maior: “É preciso imaginar Sísifo absolutamente miserável”

Esta visão, contudo, ainda parece incompleta: considere-se alguém que se sente realizado a limpar o chão do próprio quarto compulsivamente, ou escrever cópias de Guerra e Paz repetidamente. É claro que muitos de nós, por receio de fazer juízos negativos acerca da vida de outras pessoas, podemos hesitar em julgar estas pessoas.

Contemplemos então uma versão mais abstrata do problema: um Sísifo Realizado. Sísifo é um personagem da mitologia grega condenado a uma existência que, apesar dos protestos de Albert Camus, é comummente reconhecida como péssima: foi condenado a realizar, para o resto da eternidade, uma tarefa extremamente árdua, fútil e tediosa — a de empurrar uma rocha gigante até o topo de uma montanha, só para deixá-la cair e repetir o processo outra vez. Sísifo é o arquétipo de uma existência insignificante (isto é, sem significado, sem sentido), Sísifo vive para nada, essencialmente.

Richard Taylor, em Good and Evil, propôs o seguinte experimento: imagine-se que os deuses, por pena de Sísifo, injetaram nele uma substância que o transformasse em alguém que adorasse empurrar rochas mais que qualquer coisa no mundo. Neste caso, argumenta Taylor, passaríamos a ver Sísifo como um exemplo de uma vida excepcionalmente boa. Wolf discorda: vemos a existência de Sísifo como o paradigma de uma existência insignificante porque ele persegue eternamente uma tarefa árdua, fútil e tediosa. Se ela deixa de ser tediosa, continua a ser fútil. Os seus esforços não têm valor nenhum, nada de bom vem deles. Mesmo que Sísifo tire prazer do que faz, a insipidez da sua vida permanece. Algo desejável ainda parece faltar na sua vida, apesar da sua experiência de realização.

Este algo pode ser entendido como um projeto com valor objetivo, algo “maior do que nós próprios”. Devemos nos dedicar a algo exterior a nós próprios, algo cujo valor é independente de nós e cuja fonte de valor é exterior a nós. Empurrar pedras, fumar paiva ou escrever cópias de Guerra e Paz na íntegra não parecem ter valor fora do prazer que possam dar a quem o faz. Cuidar de uma pessoa debilitada, cuidar de muita gente, dedicar a vida à filosofia ou à poesia ou ao futebol, sim…Mas porquê? Como sabemos que projetos são dignos e que projetos são inúteis? Não seria elitista pensar que podemos decidir quais vidas valem à pena e quais não?

Não só isso, mas o nosso empenho em algum objetivo implica a possibilidade de sucesso e de falhanço — uma pessoa pode criar obras primas, trabalhos decentes ou meras trivialidades. Até que ponto uma vida dedicada a um projeto digno mas falhado pode-se dizer significativa? Ou até mesmo a um projeto indigno? Estas questões implicam um entendimento mais profundo do que nos faz ter sentimentos de realização e do que faz alguns objetos dignos de amor ou não.

3. Fundamentação da Objetividade

Por um lado, se analisarmos exemplos de pessoas que dedicaram a vida a um propósito e acabam por descobrir que falharam miseravelmente, como o de um cientista cujo trabalho ao longo da vida não dá resultados nenhuns, ou o de um soldado que dedica a sua vida a defender o seu país numa guerra injusta, não parece completamente errado que eles pensem, em retrospectiva, que a sua vida tenha sido vazia e fútil, um desperdício, sem significado nenhum.

Por outro lado, também temos razões para atenuar os juízos demasiado destrutivos que as pessoas possam fazer face ao insucesso imediato dos seus propósitos. Podemos, por exemplo, ter em conta como o cientista, mesmo não tendo resultados com a sua pesquisa, trabalhou por uma causa maior, o desenvolvimento da ciência, que envolve um conjunto de práticas e instituições. Suponhamos que para realizar a sua pesquisa, o cientista teve de interagir com outras pessoas, educar alunos, influenciar colegas. Não só as suas relações na comunidade científica podem ter sido valiosas como o próprio resultado negativo da sua pesquisa também são dados a serem analisados e que têm sempre a capacidade de dar frutos no futuro. Finalmente, podemos argumentar que tão somente o exercício de talento e virtude (criatividade, integridade, paciência, disciplina e determinação) têm valor por si próprios.

Jonathan Haidt, professor de psicologia na Universidade de Virginia, na sua resposta aos artigos de Wolf, oferece uma base científica para suportar os pontos sobre o sentimento de realização e informar melhor as suas causas. Essencialmente, a sua estratégia é, como bem identifica Wolf na sua resposta ao comentário de Haidt, usar factos empíricos da natureza humana para sustentar a objetividade do que é significativo ou não. Assim, não seria preciso o apelo a valores objetivos (mas sim a factos objetivos, o que parece menos problemático).

A verdade é, diz Haidt, que por mais que possamos usar como exemplos nas nossas discussões filosóficas pessoas que realizam tarefas completamente tediosas e tiram significado delas, na vida real isto não existe. Para sentirmos realização, precisamos de sentir o que ele chama de “Vital Engagement”: o envolvimento em alguma atividade adequadamente desafiante e à volta da qual se possa formar uma comunidade. Encontrar uma paixão não é apenas ter uma atividade predileta, é conhecer a tradição desta atividade e os seus grandes praticantes, fazer amizades com base nela e desenvolver-se como pessoa por causa dela.

Com efeito, Haidt argumenta que a sociabilidade está na natureza humana, e que a nossa necessidade de envolvimento em “algo maior” vem daí. Haidt argumenta que na espécie humana a unidade fundamental da sociedade não é o indivíduo, mas o grupo. Somos animais ultrasociais, mais à semelhança de formigas e abelhas que macacos, por exemplo. Nós vivemos em comunidades enormes muito mais detalhadas e interconectadas que apenas por relações de parentesco — os macacos vivem em grupos de algumas dúzias no máximo, e raramente partilham comida entre si, enquanto nós somos capazes de morrer pelo grupo.

“We want, need, and love groups. We have special emotions that we feel only in groups. And we have special practices that bind groups together into a kind of hive. Barbara Ehrenreich recently made this case in her book “Dancing in the Streets: A History of Collective Joy”. She describes how collective, ecstatic dance used to be nearly a cultural universal, which functioned to soften hierarchy and bind groups together with love.”
J. Haidt em Susan Wolf, The Meaning of Life and Why it Matters, pg. 99

Com efeito, o tipo de objetividade necessário para o presente argumento é simplesmente o que permita que alguém esteja enganado ao fazer um juízo de valor (ou seja, que garanta que uma pessoa pensar que algo é bom ou mau não o faz bom ou mau). Assim como uma pessoa pode ver significado onde não há, também o contrário é possível: podemos imaginar a mãe do Bob Dylan a pensar que o seu filho estava a perder o seu tempo com aquela guitarra, ou podemos recordar que Tolstoi teve um período da sua vida em que não via valor algum nos seus feitos literários, apesar da sua grandeza.

É preciso reconhecer, contudo, que admitir que existem valores objetivos pode provocar elitismos indesejados. Afinal, quem somos nós para dizer que projetos valem à pena ou não? A preocupação é que uma pessoa ou grupo que se imponha como autoridade sobre os valores possa ser parcial ou intransigente. Sem dúvida que os exemplos apresentados, que refletem valores ocidentais capitalistas, agravam esta preocupação. Wolf reconhece o perigo, mas pensa que ele pode ser minimizado se mantivermos a nossa falibilidade em mente. Falar da significatividade das vidas não é procurar fazer um ranking de vidas.

Ninguém em particular tem, nem deve ter, a autoridade para dizer que atividades são dignas de serem perseguidas — filosofia é dar razões, ouvir razões e permitir-se mudar de ideias, não cagar regras. Questões como estas são abertas a todos na nossa sociedade e conseguiremos respondê-las melhor tirando informação de todos os lados. A filosofia faz-se entre as pessoas, e não sozinho no trono de ouro do Rei Filósofo (esta é para ti, Platão ;) ). Assim, o essencial é debater acerca destas questões, de forma que as respostas sejam fruto de uma discussão racional.

Perhaps we avoid talk of objective value out of a desire to stay clear of controversy, perhaps out of fear of being chauvinistic and elitist. Controversy, however, should not be avoided, particularly perhaps in academic and public discourse, and, as I have argued, a belief in the objectivity of values need not be narrow-minded or coercive.
Susan Wolf, “The Meaning in Life and Why it Matters”, pg. 63

4. A vida é particular, as avaliações parciais

É sempre importante lembrar que temos discutido as vidas das pessoas de forma artificialmente abstrata, apenas enquanto “O cientista”, “O fumador de paiva”, “O parente do velho doente”. Discutir desta maneira é útil para ilustrar e testar ideias de forma mais clara, mas qualquer vida é mais complexa e variada do que isso. Ninguém é tão somente um parente — com efeito, o parente, o fumador de paiva e o cientista poderiam ser a mesma pessoa. Algumas atividades e rituais da nossa vida têm valor meramente instrumental, para mantermo-nos saudáveis e capazes, outras valor puramente egoísta. Nada disso é um problema. Numa vida multifacetada, nem todas as atividades precisam contribuir para o seu significado para serem justificadas.

Mesmo assim, Wolf é inclinada a pensar que qualquer coisa que as pessoas achem valioso (de forma estável e em números significativos), é valioso. Quem gosta de algo gosta sempre por alguma razão. A contribuição de Haidt ajuda a lembrar que quando as pessoas se interessam profundamente por algo e passam a importar-se com isso, elas constroem atividades à volta disso, exercitam e afiam as suas habilidades ao praticá-las e convidam e encorajam outros a participar neste entusiasmo.

Desporto e jogos oferecem bons exemplos do tipo de relações comunitárias e valores deste tipo. À primeira vista, não há nada de especial em um grupo de homens a correr atrás de uma bola a tentar metê-la dentro de uma rede com um outro grupo a tentar impedi-los. Mesmo assim, o futebol proporciona oportunidades a muitas coisas que são verdadeiramente especiais. O cultivo e exercício de uma habilidade, a construção de relações (através da comunhão presente em atividades com objetivos partilhados), a saúde do corpo.

O valor de obras de arte, continua Wolf, presumivelmente teria origens semelhantes: podemos assumir que os poemas ou as pinturas não têm valor nelas mesmas. O interesse e comprometimento dos poetas e amantes de poesia com a sua forma de arte, portanto, não era uma resposta a um valor que já estivesse presente nos poemas. O valor veio, na verdade, do próprio interesse e comprometimento das pessoas com estas atividades, que podem ter começado apenas como uma brincadeira. Ao ganhar reconhecimento e popularidade, uma atividade desenvolve uma tradição e grupos se organizam à sua volta, multiplicando as oportunidades para atividades de valor. Nós não nos limitamos a jogar futebol, nós assistimos, comentamos e escrevemos sobre futebol, nós temos amigos do futebol, etc.

Assim, apesar de o facto de uma pessoa se interessar por uma coisa não a fazer (a coisa) interessante, e tampouco o interesse de uma sociedade inteira o fazer (vale lembrar a Alemanha Nazi como bom exemplo deste ponto), podemos pensar que o interesse de um grupo por alguma coisa representa uma oportunidade para que ela se torne valiosa, se a nossa interação com ela for positiva.

(Este texto é pouco mais que um resumo das ideias de Susan Wolf e Jonathan Haidt apresentadas no livro de autoria da primeira, The Meaning of Life and Why it Matters, quase nada do que foi dito é de autoria minha. Por favor, não quis plagiar ninguém.)

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Written by Raphael Mees

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