O caso contra os parênteses

Raphael Mees
2 min readJun 2, 2021

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Os parênteses (tanto o esquerdo como o direito, não há cá preconceitos) são, de longe, os sinais de pontuação mais estúpidos da língua portuguesa. Por que? Porque são só uma desculpa para maus escritores, que não conseguiram dizer tudo o que queriam dizer numa frase, e por preguiça de reformular as coisas de uma maneira sem dúvida mais eloquente, elevando assim o nível dos escritores da sua amada língua, escrevem as suas frases medíocres e depois usam parênteses (note-se como eu não precisei de parêntesis para escrever esta finíssima frase, quase cinco linhas só ela, sem parar).

São símbolo último de decadência em todos os sentidos. Nunca representam algo de positivo, em nenhuns dos seus tipos:

temos, é claro, os parênteses reais {reais não de realidade mas de realeza, dos reis de sangue muitíssimo azul}, mui nobres e mui bonitos, que estão aí apenas para nos lembrar de períodos politicamente superados (e ainda bem!), ou para serem usados na matemática, e aqui deixo a escola argumentar por mim;

temos os parêntesis retos, usados pelos editores para estragar os textos aos autores, como se a sua preguiça não bastasse (e mesmo assim temos de reconhecer que pelo menos conceptualmente estas aberrações fazem sentido: os parênteses dos editores são quadrados, indicando muito bem a sua rigidez em comparação com a escrita muito mais fluida e claramente mais redondinha dos autores originais [aqui o autor mostra um péssimo sentido de humor, mesmo de muito mau gosto, mais tarde alegando ter sido “de propósito”, seja lá o que isto quer dizer]);

e temos os tradicionais, que não devem ser eliminados só por serem tradição, mas devem ser eliminados por serem uma tradição nociva (nociva tanto para mim, que se levantou da cama para vir falar de parêntesis à uma da manhã, como para o leitor, que sem dúvida preferia perder o seu tempo com assuntos menos aborrecidos. Pois pense então, se não houvesse parêntesis, não estávamos nenhum de nós aqui nesta situação que agora, francamente, é só embaraçosa).

Agora escrevo mais qualquer coisa para não acabar o texto com parênteses, acho que é de mau gosto (mais uns últimos só para dizer que fui mau escritor e não pude dizer isto fora deles. Vou ter de acabar com os parêntesis sozinho. Aqui vai então um ponto final a eles).

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Written by Raphael Mees

Filosofia, crónicas, contos e mais qualquer coisa que me lembrar de escrever

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