Déjà vu

Fim de semana, acordo, é de manhã. Mais um dia perfeitamente estéril: sem nuvens, ninguém na rua. Uma calma que, agora ja saturada, derrete qualquer ímpeto de trabalho que pudesse ter; é contagioso. O sol preguiçoso espelha a minha vida no vidro limpo da janela: assim como o dia, infrutífera, pelo menos por enquanto. A esterilidade é esperar indeterminadamente pelos resultados, ainda indeterminados: não há nada a fazer…
Não! Muito pelo contrário, há tudo menos uma coisa a fazer! É durante a indeterminação que se determinam as coisas. Temos de tomar acção! É apenas a ilusão de que o mundo independe de nós que faz dos nossos dias infrutíferos, a esterilidade é um estado mental, o vidro da janela é uma ilusão! Se não há nuvens lá fora, criamo-las; se as pessoas andam devagar, que corram, porque vai chover!
Agora é tarde, chove muito. É inacreditável quantas pessoas estão lá fora considerando o tempo, todos com os seus guarda chuvas de merda. Eu próprio, que não sou burro, prefiro esperar a chuva acabar e sair quando estiver bom tempo: espero, então, indeterminadamente. Quantas coisas não podia estar a fazer se não fosse a chuva, quantas vidas que deixam de ser vividas: viver como mera potencialidade é angustiante… Temos de agir! sem aceitar os inconvenientes da viagem, não se vai a lado algum! É a ilusão de que não nos podemos molhar que nos impede de viver! A chuva é um estado mental, o dia pode ser lindo se quisermos que seja!
Mas eu não tive tempo de querer: já é noite. O dia acaba como começou, completamente estéril: só uma sequência de presentes vividos todos em função dos seus respectivos futuros, eternamente destinados a continuarem da mesma forma por causa do passado. É contagioso, é um ciclo vicioso, quanto ao qual podemos ou aceitar a impotência da nossa semente, resignando nos a uma árvore seca, uma vida de merda, ou usar a merda como o bom adubo que é, para nos manter longe da indeterminação: para produzir frutos, Temos de tomar acção!
Fim de semana, acordo…